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Histórico

"Museu" e Panteão do Brigadeiro Antonio de Sampaio

Publicado: Terça, 10 de Janeiro de 2017, 14h01

1. ANTECEDENTES (A GUERRA DO PARAGUAI)

a. O conflito

Tudo começou no Uruguai, com uma rebelião dos colorados (liberais) em abril de 1863, encabeçada pelo general Venâncio Flores, pela derrubada do governo dos blancos (conservadores) eleito em 1860. O conflito desencadeou a sequência dos acontecimentos que levaram à Guerra do Paraguai.

A Argentina e o Brasil apoiaram a rebelião colorada – era a primeira vez que os dois países estavam do mesmo lado num conflito uruguaio. O presidente argentino, Bartolomeu Mitre, um liberal eleito em outubro de 1862, tomou essa posição porque os colorados tinham lhe dado apoio na guerra civil de seu país em 1861 e porque os blancos constituíam um foco possível de oposição federalista residual nas províncias litorâneas à república argentina, recém-unificada. Para o Império do Brasil, a questão principal era proteger os interesses dos brasileiros que viviam e tinham propriedades no Uruguai, ameaçados pela rigidez das autoridades daquele Estado sobre o comércio da fronteira e as taxas aduaneiras. Foi nesse contexto que o governo blanco se voltou para o Paraguai como único aliado possível.

Mas o Paraguai temia e desconfiava de seus vizinhos muito maiores, muito mais povoados e potencialmente predatórios: as Províncias Unidas do Rio da Prata e o Brasil. Ambos tinham relutado em aceitar a independência paraguaia e demoraram a reconhecê-la. Ambos tinham reivindicações territoriais contra o Paraguai: o Brasil, no extremo nordeste do país, na divisa com Mato Grosso, região valiosa pela erva-mate nativa; a Argentina, no leste do Rio Paraná (Missiones), mas também a oeste do Rio Paraguai (o Chaco). E havia ainda atritos com ambos quanto à livre navegação no sistema fluvial Paraguai-Paraná.

O ditador do Paraguai, Francisco Solano López, a quem o governo uruguaio procurara para obter apoio em julho de 1863, tinha chegado ao poder em outubro de 1862, após a morte de seu pai, o ditador Carlos Antonio, que governara o país desde 1844. De início, ele hesitou em fazer uma aliança formal com os blancos, seus aliados naturais, contra os colorados no Uruguai, mas viu a oportunidade de mostrar sua presença na região e de desempenhar um papel compatível com o novo poder econômico e militar do Paraguai. No começo de 1864, ele começou a mobilização para uma possível guerra.

Quando o Brasil lançou um ultimato ao governo uruguaio em agosto do mesmo ano, ameaçando retaliar os supostos abusos sofridos por súditos brasileiros, Solano López reagiu com um ultimato alertando o Brasil contra a intervenção militar. Ignorando o alerta, soldados brasileiros invadiram o Uruguai em 16 de outubro. Em 12 de novembro, após a captura de um vapor mercante brasileiro que saía de Assunción para Corumbá, levando o presidente de Mato Grosso a bordo, o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Paraguai. Em 13 de dezembro, Solano López tomou a grave decisão de declarar guerra ao Brasil e invadiu Mato Grosso. Quando a Argentina negou autorização ao Exército paraguaio para atravessar Missiones – território disputado e quase despovoado – a fim de invadir o Rio Grande do Sul, Solano López também declarou-lhe guerra, em 18 de março de 1865, e no mês seguinte invadiu a província argentina de Corrientes.

A decisão de Solano López de declarar guerra primeiro ao Brasil e depois à Argentina, e de invadir os dois territórios, mostrou-se um grave erro de cálculo, que traria consequências trágicas para o povo do Paraguai. Subestimou o poderio militar potencial, se não efetivo, do Brasil, e sua disposição de lutar. E errou ao pensar que a Argentina ficaria neutra numa guerra entre o Paraguai e o Brasil em disputa pelo Uruguai.

A imprudência de Solano López resultou na união de seus dois vizinhos poderosos – na verdade, como Flores finalmente conseguira tomar o poder em Montevidéu em fevereiro de 1865, a união de seus três vizinhos – numa aliança em guerra contra ele. O Brasil e a Argentina não tinham qualquer atrito com o Paraguai que pudesse justificar uma guerra. Nenhum dos dois queria nem planejava uma guerra contra o Paraguai. Não havia pressão nem apoio público à guerra; de fato, a guerra era impopular nos dois países.

Os objetivos originais da guerra, tal como foram expostos no Tratado da Tríplice Aliança assinado pelo Brasil, pela Argentina e pelo Uruguai em 1° de maio de 1865, eram: a derrubada da ditadura de Solano López; livre navegação dos rios Paraguai e Paraná; anexação do território reivindicado pelo Brasil no nordeste do Paraguai e pela Argentina no leste e no oeste do Paraguai — esta última cláusula se manteve secreta até ser revelada pela Inglaterra em 1866. A guerra, que se estendeu por mais de cinco anos, foi a mais sangrenta da história da América Latina.

A guerra pode ser dividida em três fases. A primeira começou com as ofensivas paraguaias a Mato Grosso em dezembro de 1864 e a Corrientes em abril de 1865. Em maio de 1865, o Exército paraguaio finalmente atravessou Missiones e invadiu o Rio Grande do Sul. A segunda e principal fase do conflito começou quando os aliados finalmente invadiram o Paraguai, em abril de 1866, e instalaram seu quartel-general no Tuiuti, na confluência dos rios Paraná e Paraguai. Em 24 de maio, repeliram uma investida paraguaia e venceram a primeira grande batalha em terra. Mas os exércitos aliados demoraram mais de três meses até começarem a subir o Rio Paraguai.

Em 12 de setembro de 1866, Solano López propôs concessões, inclusive territoriais, para terminar a guerra, desde que lhe fosse poupada a vida e o Paraguai não fosse totalmente desmembrado ou ocupado em caráter permanente, mas sua proposta foi rejeitada. Dez dias depois, em Curupaiti, ao sul de Humaitá, no Rio Paraguai, os aliados sofreram sua pior derrota. Não retomaram o avanço até julho de 1867, quando se iniciou uma movimentação para cercar a grande fortaleza fluvial de Humaitá, que bloqueou o acesso ao Rio Paraguai e à capital, Assunción. Mesmo assim, passou-se mais de um ano antes que os aliados ocupassem Humaitá (5 de agosto de 1868), e mais cinco meses para a derrota decisiva e praticamente a destruição do Exército paraguaio na Batalha de Lomas Valentinas, em 27 de dezembro. As tropas aliadas (na maioria brasileiras), sob o comando do marechal Luís Alves de Lima e Silva, o marquês de Caxias, comandante-chefe brasileiro desde outubro de 1866 e comandante-chefe das forças aliadas desde janeiro de 1868, finalmente entraram em Assunción em 1° de janeiro de 1869 e terminaram a guerra. Pelo menos, assim pensavam os aliados.

Mas houve uma terceira fase: Solano López formou um novo exército na Cordilheira a leste de Assunción e começou uma campanha de guerrilha. Foi derrotado e seus soldados massacrados na última grande batalha em Campo Grande ou Acosta Nu, no nordeste de Assunción, em agosto de 1869. Mesmo assim, López conseguiu escapar com vida. Com sua companheira irlandesa Eliza Alicia Lynch, ele foi perseguido no norte por tropas brasileiras por mais seis meses, até finalmente ser acuado e morto em Cerro Corá, no extremo nordeste do Paraguai, em 1° de março de 1870. Em 27 de julho, foi assinado um tratado de paz preliminar.

b. Jogo de interesses?

Existe um mito de que o Brasil e a Argentina, na Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança, foram instrumentos do capitalismo britânico, “Estados satélites”, “neocolônias”, instigados e manipulados por uma Grã-Bretanha “imperialista”, o “indispensável quarto Aliado”, para entrarem em guerra contra o Paraguai. Este seria um sólido mito nascido nos anos 1970 e 1980, nos textos de historiadores latino-americanos tanto da esquerda marxista quando da direita nacionalista. O alegado objetivo da Inglaterra era minar e destruir o modelo de desenvolvimento econômico conduzido pelo Estado, que representava uma ameaça ao avanço de seu modelo capitalista liberal na região. Mais especificamente, seu objetivo era abrir a única economia da América Latina que continuava fechada aos produtos manufaturados e aos capitais ingleses, e assegurar à Inglaterra novas fontes de matérias-primas, em especial o algodão, já que o abastecimento dos Estados Unidos tinha sido afetado pela guerra civil.

Há pouca ou nenhuma prova concreta consistente que possa sustentar essa tese. O governo britânico não tinha praticamente nenhum interesse no Paraguai e nenhuma vontade de piorar as disputas existentes no Rio da Prata, e muito menos de promover a guerra, que iria apenas ameaçar vidas e propriedades inglesas e o comércio britânico. E, mesmo que quisesse, a Inglaterra não exercia o grau de controle sobre o Brasil ou sobre a Argentina que seria necessário para manobrá-los e levá-los à guerra contra o Paraguai.

As autoridades britânicas, em sua maioria, estavam a favor dos aliados, mas a Inglaterra se manteve oficialmente neutra durante a guerra e utilizou de modo sistemático sua influência a favor da paz. É verdade que fabricantes britânicos vendiam armas e munições aos beligerantes – isto é, na prática, ao Brasil e à Argentina, visto que o Paraguai logo caiu sob bloqueio brasileiro. Mas eram negócios, oportunidades de os empresários na Inglaterra, na França e na Bélgica lucrarem com uma guerra. Também é verdade que o empréstimo de sete milhões de libras dos Rothschild ao governo brasileiro em setembro de 1865 foi utilizado para comprar navios de guerra, e neste sentido a Inglaterra deu uma contribuição importante para a vitória dos aliados sobre o Paraguai. Mas não houve qualquer outro empréstimo ao Brasil durante toda a guerra, e os empréstimos ingleses representaram apenas 15% do total de despesas do Brasil com a Guerra do Paraguai. A principal responsabilidade pela guerra coube ao Brasil, à Argentina, em menor grau ao Uruguai e, sobretudo – infelizmente –, ao próprio Paraguai.

c. A Batalha de Tuiuti

Em Tuiuti, considerada a mais importante e sangrenta batalha campal da América do Sul, pelos efetivos envolvidos, pela violência dos combates, e, sobretudo, pelo valor dos chefes militares, destacam-se as figuras de Osório, seu herói máximo, Sampaio e Mallet, do lado brasileiro.

Os paraguaios apoiados em forte posição, esperavam atacar e destruir a maior parte dos exércitos aliados, a fim de criar condições para a contraofensiva. O nosso dispositivo, em Tuiuti, mais ofensivo do que defensivo. Os guaranis utilizariam cerca de 24 mil homens, enquanto o Brasil, Argentina e Uruguai dispunham de 32 mil; pela primeira vez os contendores empregariam quase o total de suas forças e medir-se-iam com idêntica determinação. Por volta das 12 horas, os soldados de Lopez arremeteram ferozmente, pretendiam investir simultaneamente pela frente e pelos flancos, procurando cortar uma possível retirada do inimigo, usariam 9.500 homens, no flanco direito, o mesmo efetivo, no flanco esquerdo e 5 mil no centro, sendo que a reunião das colunas flanqueantes fecharia a garganta e facilitaria a destruição dos aliados.

O próprio terreno, favorável aos atacantes, na tomada dos seus dispositivos, servia-lhes, em parte, de obstáculo, atrasando a coluna da esquerda. Osório, Sampaio e Mallet se encarregaram de completar as operações para a derrota total, paraguaia. Mallet esperou, baterias silenciosas, a aproximação da coluna do centro e, na área de tiro, varreu-a a metralhadora. Desviando-se da artilharia inimiga e procurando flanqueá-la, esbarrou na Divisão Encouraçada, onde o valoroso Sampaio comandava as ações e após muito combater, foi mortalmente ferido.

Desfazia-se o ataque central dos paraguaios, sem que as suas alas, repelidas pelos brasileiros e argentinos, alcançassem os objetivos. O plano de Lopez fracassara e, as 16:30, com a retirada paraguaia, encerrava-se, melancolicamente, a batalha iniciada com grandes espetáculos militares. Mais da metade, cerca de 13.000 homens, do efetivo de Lopez, desapareceram entre mortos e feridos. Os aliados perderam 3.900 homens, dos quais, aproximadamente, 975 mortos e 2.925 feridos.

Os aliados, embora vitoriosos em Tuiuti, perderam a iniciativa estratégica das operações, sofreram grandes baixas, a cavalaria praticamente desmontada ressentia-se da falta de meios de transporte. Os paraguaios esgotaram a sua capacidade ofensiva e passaram a defensiva estratégica e tática, com o objetivo de prolongar a guerra, a fim de obterem, ao menos, uma paz negociada. A Luta entrou em nova fase caracterizada pela estabilidade da frente, só com a chegada de Caxias em 1866 é que começa a arrancada rumo a vitória. Após um período de “trégua” no front de combate, em 1868, um ano após a primeira batalha de Tuiuti, ocorreu a segunda batalha com Caxias a frente das tropas. Mais uma vez Lopez perdeu, afirmando o predomínio dos aliados.

2. BRIGADEIRO SAMPAIO

Em 17 de julho de 1830, o jovem Antônio de Sampaio, oriundo de Tamboril - CE, sentou praça como voluntário no 22° Batalhão de Caçadores, sediado na Fortaleza. Promovido a furriel, no ano seguinte, recebeu seu batismo de fogo no violento encontro do Icó, a 4 de abril de 1832, quando o major Francisco Xavier Torres derrotou a força do coronel rebelde Joaquim Pinto Madeira, que tomara armas em protesto pela abdicação imposta a D. Pedro I, afastando-o do trono que erguera na América Portuguesa. Sampaio prosseguiu sua carreira e tornou-se Brigadeiro, herói na Guerra do Paraguai e Patrono da Infantaria Brasileira, por escolha dos cadetes da Escola Militar do Realengo. Morreu em função de graves ferimentos obtidos em batalha no dia 24 de maio de 1866.

De suas medalhas, o leão e as 3 estrelas ostentadas no estandarte do Regimento Sampaio, representam a maior homenagem da Infantaria ao seu patrono, traduzindo a bravura, o sofrimento e o estoicismo do grande chefe militar. As 3 chagas de Sampaio em Tiuiti inspiraram o movimento heráldico da condecoração de Sangue do Brasil, prêmio para aqueles que derramaram o seu sangue no campo da honra nacional.

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